O que um ateu pensa da religião...

“Atualmente penso que existe um ranço infantilizado e quase irracional por parte de pessoas que se dizem contra a religião ou que negam todas as conquistas que a religião teve até aqui, no ponto em que estamos. E afirmo que uma atitude assim é, na menor das hipóteses, próxima da insensatez, do ridículo. É algo semelhante ao cara chegar e negar toda a sua história pessoal, envergonhar-se de sua família e dos amigos, adotando uma pose que essa galera mimada chama de “visão de mundo independente”. Haha... Mundo da aparência, onde está a tua essência? [Trecho de um rap]. O cidadão nem sabe definir direito o que é mundo e quer ter uma visão “independente”... Me aborreço com isso por que está na moda espoliar a religião. Não fazem isso por algum “valor”, se é que haja valor em atacar valores, mas fazem isso por puro modismo, por não serem capazes de pensar nos benefícios, que, bem ou mal a religião trouxe para o mundo. Caraca, aconteceram uns episódios da treva, mas veja aí quanta coisa boa foi feita também! Eu moro na favela. Aqui o sistema é bravo. Ninguém entra sem permissão. Mas o padre entra e as freiras entram. Uma pá de pastores também entram, mas eles não estão preocupados com as pessoas não: querem o dinheiro. Enquanto as freiras vem aqui para cuidar da escola que elas abriram porque não aceitaram nossas crianças na creche dos bacanas. O discurso também é diferente e isso me chama a atenção: o padre fica lá falando, dá vontade de dormir, mas ele fala de construção do mundo, um outro mundo é possível, essas coisas assim, como se pudéssemos mudar o mundo... O pastor fica ali, bravo pacas com o demônio: “sai, coisa ruim, sai que eu te ordeno, manifesta-te!”. Puxa vida, deixa o demônio em paz, pô. Aí está a diferença. Gente que não se informa direito vai pela opinião do senso comum, não faz um esforço por pensar que as coisas podem ter um outro lado. Eu sou ateu sim, mas não é por moda não, é por que percebo que a melhor concepção do transcendente é aquela que está dentro de mim. Fiz minha faculdade graças aos padres, mas meu respeito a todas as religiões vem por conta da ordem que elas são capazes de conferir a qualquer grupo social.”

(Chico Grilo, sociólogo ateu e rapper carioca)