segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Mensagem do Reitor-Mor ao Movimento Juvenil Salesiano - MJS - ASJ 2011

Mensagem do Reitor-Mor ao Movimento Juvenil Salesiano - MJS



(Articulação da Juventude Salesiana - AJS) 2011









Queridos Jovens,




cumprimento-os e confidencio-lhes a minha imensa alegria de enviar esta mensagem. São palavras e sentimentos que recolho perante o Senhor Jesus, Bom Pastor. Peço ao seu coração misericordioso que ilumine suas mentes, aqueça seus corações e encha suas vidas de sentido e dinamismo.


Trago-os todos os dias no coração e rezo incessantemente por todos vocês; sim, rezo por vocês, porque a orientação profunda da minha vida é permanecer unido a Cristo e entregar-me totalmente a vocês. Neste sentido, rezo sempre por todos, e, ao visitar as casas salesianas espalhadas pelo mundo, quando me deparo com os seus rostos regozijo-me e bendigo o Senhor. Leio em seus olhos luminosos e alegres uma grande vontade de viver e o desejo velado de fazer algo de belo da própria vida. É natural que coloquem a questão sobre o quê e como fazer. Admiro-me que muitos de vocês ainda vivam incertos e confusos; e sei muito bem que nada esperam das teorias e dos programas. Para responder a essa questão, não posso fazer outra coisa que falar-lhes com o coração do nosso pai Dom Bosco. É ele quem lhes fala agora por meu intermédio, é ele quem cuida da vida presente e futura de vocês, porque ele os quer felizes nesta terra e para sempre.






Queridos Jovens, gostaria de lhes contar o que me fez compreender, de modo sempre mais profundo, o sentido da minha vida. Ele brotou e cresceu em mim através do encontro com uma pessoa "viva".


Essa pessoa foi, para mim, antes de tudo, mamãe Margarida. Quando, juntos, contemplávamos um belo campo de trigo maduro, ela me dizia: "Joãozinho, agradeçamos ao Senhor. Ele foi bom para conosco. Deu-nos o pão cotidiano". Depois de contar para ela o sonho que haveria de marcar a minha vida, com a intuição que só o coração de uma mãe pode perceber, ela exclamou: "Quem sabe se um dia não serás sacerdote". Palavras simples, que me faziam entender que Deus sonhou comigo, que Deus tinha para mim um sonho a realizar, um plano, um projeto maravilhoso, uma história de amor que estava tecendo dentro de mim, misteriosa e silenciosamente: entregar a minha vida aos jovens, por eles e com eles. Tudo isso me fazia sonhar coisas grandiosas.


Minha mãe não me ensinara o sentido da vida só com as palavras, mas também e, sobretudo com os seus exemplos, como quando, acordada pelos vizinhos em plena noite, para socorrer um doente grave, levantava-se e corria com toda a pressa para levar a sua ajuda. Ela demonstrava a mesma prontidão e o mesmo amor quando nunca negava um pedaço de pão ou uma sopa quente ao mendigo que batia à porta. Aprendi assim que não basta sonhar, mas que é preciso pagar um preço para os sonhos se tornarem realidade. Dela, eu aprendi os gestos da religiosidade simples, o hábito da oração, do cumprimento do dever, do sacrifício. A sua presença amorosa recordava-me que a vida é o dom mais precioso que Deus nos deu, vida que devemos devolver-lhe rica de frutos e de boas obras.


Ao longo da minha vida, especialmente quando devia tomar decisões importantes, encontrei outras pessoas, iluminadas pelo Espírito, que me ajudaram a entender que a vida é vocação e empenho de entrega, e me guiaram na escuta do chamado do Senhor e na acolhida da missão que Ele me confiava. A experiência pessoal convenceu-me, de maneira muito intensa, da importância de os jovens encontrarem um ambiente onde se respiram e vivem os grandes valores humanos e cristãos, como também a importância de encontrarem adultos significativos, guias espirituais capazes de encarnar os valores que proclamam, apresentando-se como testemunhas críveis e modelos de vida.


No Oratório de Valdocco, o clima de família que eu criara não era o de uma estufa aquecida, de um ninho, onde os tímidos e os friorentos pudessem sentir-se à vontade, sem libertar-se da visão restrita da vida. Não! Valdocco era um laboratório onde se criava cultura vocacional. Eu guiava os meus filhos para o amadurecimento real de homens e de cristãos segundo o espírito de liberdade do evangelho, fazendo com que fossem "pessoas-para-os-outros". As vigorosas personalidades crescidas em Valdocco são a prova disso: de Domingos Sávio a Miguel Magone até os missionários pioneiros: Cagliero, Lasagna, Costamagna, Fagnano; e, depois, Rua, Albera e Rinaldi, meus primeiros sucessores, e muitas outras figuras de elevado relevo, sacerdotes e salesianos coadjutores, religiosos e leigos empenhados na sociedade e na Igreja. Respirava-se uma atmosfera vocacional, o desejo de fazer da vida um grande dom à Igreja e à sociedade. Depois de mim, muitos outros salesianos e leigos da Família Salesiana fizeram a mesma experiência em suas casas.



Vocês também, queridos Jovens, podem encontrar pessoas de referência na família ou no ambiente que os rodeia. Existem pessoas admiráveis, ricas humanamente e capazes de viver e testemunhar uma profunda espiritualidade. Para elas, vocês podem olhar como para modelos concretos de suas vidas. São sacerdotes, são pessoas consagradas, são leigos e leigas que vivem com alegria a plenitude do batismo. Guiados pelo Espírito e à escuta da Palavra de Deus, foram capazes de desenvolver a própria vida cristã até fazer escolhas de vida corajosas e empenhativas. Tornaram-se, então, testemunhas autênticas de Cristo na Igreja e na sociedade.


Estas pessoas são para vocês um pouco como João Batista, testemunhas e mediadoras do encontro com Jesus. O Batista, de fato, indicou Jesus de Nazaré aos seus discípulos como Aquele que podia satisfazer os desejos mais profundos dos seus corações, Aquele que podia encher de sentido e de alegria as suas vidas, Aquele que era verdadeiramente "o caminho, a verdade e a vida". As testemunhas de hoje, que encontramos em nosso caminho, são outros "João Batista para nós". Aqueles que, novamente, nos indicam o Senhor da Vida!


Acontece, então, que o caminho não só dos crentes, mas a vida de cada homem cruza num determinado momento com o rosto e o olhar de Jesus, e este encontro pode ser decisivo. Desde o encontro dos primeiros discípulos com Jesus até hoje, o convite "cativou" muitos jovens, homens e mulheres. "Encontramos o Messias", testemunhará André ao seu irmão Simão. "Encontramos Aquele do qual escreveram Moisés e os profetas, Jesus de Nazaré", confessará Filipe a Natanael. "A quem iremos? Só tu tens palavras de vida eterna", dirá Pedro. Para todos foi, é e será um encontro que marca a vida inteira. Um dos discípulos de João recorda até mesmo o instante preciso do encontro com Jesus: "Era por volta das quatro horas da tarde".


Para vocês, como para eles, Jesus faz a pergunta fundamental: "O que procuram?", ou melhor, "A quem procuram?". Ficamos vinculados por essa pergunta que, penetrando o coração, vai investigar as profundezas da nossa existência: não podemos fugir dela ou ser-lhe indiferentes. O mistério da graça, depois, modifica as nossas atitudes fazendo-nos sequiosos de uma resposta: "Mestre, onde moras?". "Venham e vejam", é a resposta de Jesus. Eles foram, viram onde morava e ficaram com ele aquele dia. Um encontro, uma relação pessoal de amizade que enche o coração e transforma a vida, hoje como naquele tempo. Todos os que o encontram, que o seguem, são alcançados intensamente pela profundidade e plenitude da sua vida. Uma vida que foi e continua a ser para sempre o modelo de uma vocação vivida com absoluta fidelidade a Deus e aos homens.


Quando vocês se perguntam, queridos Jovens: "o que fazer para buscar um sentido pleno para a vida?", olhem para aquele Homem que nos amou até entregar-se totalmente por nós. Ele é o modelo de qualquer projeto de vida e a resposta fiel e plena para qualquer vocação, porque é um Homem intensamente unificado ao redor de um ponto focal. Tudo nele - energias físicas, psíquicas, intelectuais, afetivas, volitivas - se concentra ao redor de um núcleo que atrai e harmoniza o que Ele possui e o que Ele é. Não se trata de um "homem borboleta", que se movimenta constantemente de uma flor a outra em busca da beleza efêmera, mas é um "homem rocha", ancorado solidamente num ponto central de enraizamento que unifica e harmoniza a sua vida com a vontade do Pai, que orienta todos os seus gestos e todas as suas palavras, que preenche a sua ação e a sua oração. Este ponto unificador ao redor do qual se concentra toda a sua pessoa é o seu grande sonho, um projeto de grande respiro, a sua vocação.


Uma das parábolas narradas por ele, a do homem que ao arar um campo encontra um tesouro e vende tudo o que tem para poder apossar-se dele, descreve muito bem a sua condição pessoal: aquele sonho cativou realmente o seu coração porque, como ele mesmo diz: "onde está o seu tesouro, ali está o seu coração".


Jesus vive a dedicação ao sonho que traz em seu coração com autêntica paixão: a pregação e a construção do Reino do seu Pai, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem à plenitude da vida. A sua existência não é vivida no desinteresse ou na indolência. Antes, é uma existência vivida com intensidade incontida. É uma vida plena de movimento e dinamismo. Suas palavras não deixam dúvidas: "Eu vim para trazer fogo à terra, e como gostaria que já estivesse aceso!". A imagem do fogo é muito expressiva, e fala do ardor com que Ele persegue a causa que abraçou.


Esse fogo é o Espírito Santo que nos renova, antes de tudo na oração. O fruto do Espírito Santo é o amor que se manifesta na paz dentro de nós, na alegria do nosso ambiente e no dinamismo da nossa vida. Renovados pelo Espírito, tornamo-nos pessoas realizadas: pacientes, fiéis, compromissadas.






Esse mesmo fogo, queridos Jovens, deve aquecer hoje o coração de vocês.


Vocês não podem resignar-se a viver a própria vida como se ela fosse um simples ciclo biológico (nascer, crescer, reproduzir-se, morrer); não podem organizar a própria existência como uma vida sem energia, anêmica, sem paixão em relação a Deus e ao próximo. Não podem desperdiçar a vida reduzindo-se ao papel de consumidores e expectadores. Vocês são chamados a ser protagonistas na sociedade e na Igreja: "vocês são o sal da terra e a luz do mundo", diria Jesus.


A decisão de seguir Jesus de maneira radical é jogada toda na aposta de poder enamorar-se de Deus e gastar-se pelo homem, especialmente o mais pobre e abandonado.


Sim, queridos Jovens! Deus precisa de vocês "hoje" para "recriar" o mundo. Todo homem, toda mulher tem um sonho pelo qual viver e do qual falar. Eu, movido pelo Espírito de Jesus, sempre cultivei e cultivo ainda hoje o meu sonho: um vasto movimento de adultos e jovens, que seja profecia do novo mundo. Um mundo no qual todos os homens possam obter justiça. Um mundo no qual os "pequenos", os últimos estejam no centro. Um mundo no qual as pessoas sejam, uns para os outros, irmãos e irmãs. O novo mundo pode tomar forma, ser real, se vocês seguirem Jesus, se vocês tomarem a peito as suas palavras realizando assim o sonho de Deus.


Juntos, todos nós podemos dar vida a um grande Movimento salesiano que se volte a ajudar os jovens, sobretudo os mais pobres e em dificuldade, projetando o presente e o futuro, mirando a objetivos importantes para a renovação de nós mesmos e da história. A Família Salesiana quer assumir este compromisso como vocação e missão especial. E vocês, queridos Jovens, devem sentir-se nesta Família como na própria casa, sabendo que são a alegria e o fruto mais maduro do nosso trabalho.


Há diversas vocações na Igreja e na Família Salesiana, mas a obra educativa e evangelizadora, à qual somos chamados, afunda sempre as suas raízes na profundeza e na ternura do amor de Deus, chega até nós através do amor de entrega de Cristo e se transmite mediante a total entrega aos outros homens e mulheres. A vocação jamais é fuga de uma realidade hostil, intuída como difícil ou decepcionante, e nem mesmo uma escolha que tem por objetivo primeiro a eficácia apostólica, mas é, sobretudo, um caminho de amor que leva ao Amor. E, da experiência fundamental do amor que se coloca como único e exclusivo, brota um novo modo de ver e enfrentar a realidade. O coração purificado pela entrega a Deus e ao Espírito Santo torna-se capaz de ler a beleza interior de toda criatura e de amá-la desinteressadamente. É a mesma misericórdia de Deus que se apossa do coração humano e ocupa-se de toda dor, de toda fragilidade.



Peço por vocês, queridos Jovens, para que ainda hoje muitos de vocês se deixem seduzir, fascinar por Deus a ponto de entregar-se totalmente a Ele. Colocando-se a serviço do Amor, não lhes faltarão alegrias profundas. São as alegrias da fecundidade que vêm da intimidade com Deus e do trabalho do operário que vive só pela causa do Reino.


Peço também pelos meus filhos diletos, os Salesianos, para que possam viver com alegria e fidelidade a grande aventura da paternidade espiritual. Possam eles ser seus guias competentes na busca de sentido e na elaboração dos seus projetos de vida; irmãos sinceros que se fazem seus companheiros de viagem e lhes distribuem a Palavra de Deus que vivifica, ilumina, conforta no difícil caminho. Palavra que abre à oração e reacende o fogo oculto que trazemos no coração. Sem esta capacidade contemplativa, a nossa vida espiritual e apostólica não se sustenta. Queridos Salesianos, sejam guias iluminados dos que solicitam a direção espiritual e praticam a vida sacramental e eclesial; sejam mestres sapientes e pacientes dos que se empenham na busca da própria vocação.



Peço, de modo especial, que o Espírito Santo suscite operários zelosos, criativos, capazes de ir ao encontro de todos os jovens que hoje já não batem às portas da Igreja. São jovens que, em sua caminhada até a estrela, gostariam de encontrar os magos, mais do que os escribas de Jerusalém; jovens que já não nos perguntam sobre o que é preciso crer, mas, sobretudo, o que significa crer. Para tudo isso é preciso uma verdadeira mudança de perspectiva pastoral.



Queridos Jovens e amantíssimos Salesianos, coloquemos sob o olhar materno de Maria a nossa vida como vocação e a nossa missão educativa. Foi Ela quem se fez discípula do Senhor, da Palavra de Deus na escuta constante, no coração e na vida. Foi Ela quem respondeu ao chamado de Deus com o dom total, corajoso e livre de si mesma: "Eis a serva do Senhor". Dela, mulher nova, mestra de fé e de arrebatamento, a Família Salesiana aprende a ser discípula do Senhor e "Mãe" que, no amor, gera e educa os jovens à entrega generosa da própria vida para chegar à plenitude.






Turim, 31 de janeiro 2011.


Afeiçoadíssimo em J. C.










Padre João Bosco


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